Paris, França | |
Salut, meu nome é Roselisa. Muitos me chamam de Deísa. Sou brasileira e atualmente moro em Paris. Gosto de escrever, de fotografia, viagem, cinema e cultura. Aqui é o meu espaço onde falo de tudo um pouco. |
Enquanto isso, na Alemanha...o Natal foi branco!
Para evitar acabar sozinha no meio da praça,
olhando uma estrela no céu (caso estivesse nublado, nem isso conseguiria ver),
falando com estranhos (perigoso, depois de certa hora da noite) aceitei o
convite de uma grande amiga que não via há tempos para passar o Natal com sua
família e parti de Paris de trem, a bordo do Thalys para Colônia, Alemanha, onde
ela me buscou. No caminho, o trem fez parada na Bélgica - Bruxelas, Liège (sim,
onde houve a matança em plena praça do mercado, recentemente) e Aix-la-Chapelle,
chamada de Aachen pelos alemães. Quanto mais me aproximava do meu destino,
pensei que em apenas três horas, cruzei pelo menos dois países, chegando a um
terceiro, o que no Brasil, dá mal a distância de uma ou duas cidades, num só
Estado. Pensei ainda em como o exército alemão se deslocou Europa afora,
invadindo países vizinhos...Bem, isso é pensamento demais para uma viagem só e
uma reflexão tão profunda, vai ter que ficar para um outro momento.
"Armada até os dentes" para enfrentar o frio glacial que se
avizinhava, desembarquei estupefata ao encontrar um país tão rico e bonito, tão
limpo, e ordeiro. Em uma semana, engordei, mesmo, uns dois quilos, por me
recusar a recusar qualquer coisa gostosa e diferente da culinária local que me
passou pela frente, incluindo as suas deliciosas cervejas, märzen, starkbier, bockbier e doppelbock e vinho quente, Glühwein, temperado com ervas e
especiarias. Sim, tá ali um lugar onde o porco é rei, o que deve ser um
sofrimento (ou foi, literalmente), para Judeus e Muçulmanos e outras linhas que
recusam comer “focinho baixo”. Eu, como sou uma mistura, evoluída (?) de Judeus
Novos (Pereira) e dos Mouros (Mourão), já superei os malefícios da ingestão
daquela carne rosada e saborosa. Do porco, come-se tudo e de todas as maneiras.
Einsbein, joelho de porco defumado, acompanhado
de kartoffel (batatas) e Sauerkrout (repolho azedo), uma delícia!
São 1.500 tipos de salsichas diferentes, mas confesso que não provei mais que
dois ou três, acompanhadas de mostarda, afinal, não sou de ferro. Ao lado,
posto fotos do que vi e provei. Do cenário nevado, pequenos flagrantes de um
momento especial. Pela proximidade do lar de Santa Klaus, mais ao Norte, encontrei
tradições natalinas ainda mais fortes do que na França, tal como o esmero na
decoração das casas, dentro e fora, nas ruas. Eles vivem de fato o Advento,
período que antecede ao Natal. Menos comércio e mais bandas de música tocando
canções natalinas. Fui até a um concerto de Natal de uma escola da cidade e uma
missa na Igreja Luterana, cantada por um coral da comunidade – cantei
facilmente em alemão, com a ajuda de um telão à esquerda do altar, onde a letra
da canção era mostrada – boa sugestão para as Igrejas Católicas que adotam, a
cada semana, novas canções, que ninguém, à exceção dos habitués, consegue cantar, de autoria de algum
Padre-Cantor-Megastar (no meu tempo, ‘deglutimos’ o Padre Zézinho, que inovou
no gênero). Descobri que na Região, muitas famílias, ao contrário do que sempre
fiz, copiando meus modelos, deixam para armar suas árvores na véspera do Natal,
num ritual que envolve pais e filhos, à noite, tudo regado às bebidas e comidas
da estação. A casa fica pronta antes, as portas decoradas com as guirlandas
(símbolo ligado ao Advento), mas a árvore espera (Oh Tannenbaum)- acho que tem lógica, pois as deles, são vivas,
cortadas especialmente para o evento. Além disso, a ideia é seja uma
antecipação, de verdade. Eles as decoram com bolas que têm significação
especial - compradas, uma a uma, em momentos diferentes, viagens, de locais
sugestivos, relíquias guardadas de herança das famílias. Elas contêm enfeites
relacionados aos símbolos culturais locais ou nacionais, como bolinhos (Plätzchen), que devem ser comidos no dia
06 de Janeiro, o dia da Festa de Reis. Neste dia, como me foi relatado, as
crianças saem pelas casas da vizinhança, para ganhar suas guloseimas. Esta
tradição foi, por motivos que desconheço (se alguém puder contribuir que o
faça), copiada pelo chatíssimo Halloween americano, em pleno 30 de Outubro. Há certamente,
na estética belíssima das árvores decoradas, algo mais, que apenas serem belas.
Sei que de onde venho, decoradores são chamados para decorar as árvores de
algumas residências mais afortunadas – as demais, apenas distribuem bolas e
enfeites made in China sem nenhuma
outra intenção especial. Nada contra.
Mas entendi que a simbologia é outra. É a tal estória de copiar a tradição, sem
compreender seu sentido, que é fazer com que a árvore simbolize a história da
família. P.S. Antes de ir à Alemanha, eu já pendurava nas minhas árvores, enfeites
feitos por minhas filhas, quando crianças, trecos velhos, baratos, comprados
nesse ou naquele mercado, num determinado momento. O resultado sempre nos
agradou, mas certamente, seria condenado de cara por um decorador profissional.
Intuição. De volta à Kierspe, descobri que ali, não tem pisca-pisca! Luzinhas
pequenas, brancas, raramente vermelhas, mas não piscam! Gostaria de saber quem
foi mesmo que teve a ideia de introduzir no mercado, para que consumíssemos
loucamente, as tais luzinhas que devem tirar o sono dos neurocientistas (e o
nosso), que alegam que o cérebro sofre com o ritmo acelerado da luz (e som).
Hora de rever se o excesso em algumas casas não leva a enxaquecas ou até
derrames, quem sabe? Acho que talvez a ideia fosse recriar o ambiente onde a
neblina espessa faz com as luzinhas “pisquem”...pura conjectura minha, mas, c’est pas idiot., como dizem os
franceses. Percebi que a Alemanha é, de fato, uma grande potência e por isso,
está conseguindo sobreviver ao caos geral em que se encontra a Europa. Mas isso
não veio por acaso. Com a reunificação das duas Alemanhas, na década de 1990, a
Bundersrepublik recorreu a
empréstimos internacionais altíssimos, enfrentou anos sombrios, mas segundo o
projeto da era Köhl (Helmut), manteve sua produção no país, na contramão da
Europa em geral, que praticou a délocalisation,
a transferência da produção aos países onde a mão de obra era mais barata (e a
que custo!), como China, Índia e países do Leste europeu. O resultado é que hoje,
a indústria alemã é pungente e altamente especializada, produz para o país e
exporta o excedente, exatamente como na Teoria de Ricardo, a das vantagens
competitivas. Naturalmente e por ter investido na sobrevivência da indústria
nacional e na qualificação da sua mão de obra, operário tem emprego, renda
alta, oportunidade, mobilidade e sabe trabalhar, porque foi treinado para isso.
Tudo lá é mais barato do que na França, desde roupas, à comida, cerveja, tudo. Limpíssima, ruas, estradas. Todo mundo tem
carro e que carros - Mercedes-Benz (Daimler), BMW’s, Audi’s, Volkswagen’s -
este ano a produção foi recorde, segundo a Deutsche Welle – www.dw-world.de, que voam pelas estradas,
sem, no entanto, a conotação dada a eles em outros centros – lá são a qualidade
e confiabilidade que falam mais alto. Vi poucas motocicletas, no máximo e
raramente, motonetas (Motocicleta em excesso é, pois, sinal de
subdesenvolvimento, como acontece em Teresina!). Segundo verificado, os custos
das taxas de licenciamento e seguros de veículos de duas rodas os tornam quase
proibitivos (ideia a ser copiada?). Além disso, o Governo não suporta ter que
tratar dos acidentados, que quase sempre, ficam seqüelados e caem no sistema de
seguridade social (observe-se o que ocorre numa noite de sábado, no HUT). Enfim,
viajar tem um algo mais a ser apreendido, que simplesmente irmos de um lugar
para o outro e tirarmos fotografias. Sugiro aos nossos políticos, Municipais,
Estaduais e Federais, que ao viajar para o Exterior, em viagens oficiais,
aproveitem o ensejo para aprender, apenas observando e buscando as explicações
para o que vêm e não para se refastelar na gastança com canetas Mont Blanc, camisas Lacoste e Scotch escocês,
enquanto suas mulheres adquirem os últimos modelos de óculos Dior e mais umas bolsinhas Louis Vuitton. Nada contra, desde que
fizessem algo mais pelo povo que paga pelas tais viagens (Quem sabe, valia
olhar mesmo quando viajam de férias?). Merecemos ser administrados por quem
consegue enxergar longe, buscar num simples olhar sobre uma cidade bem traçada,
soluções de desenhos de trânsito, de recolhimento de lixo, planejamentos de
calçadas, acessibilidade, por exemplo. O que dá para perceber numa viagem a um
país realmente desenvolvido, é que nem tudo é dinheiro. Ao contrário – nossas
obras públicas estão dentre as mais caras do mundo, acho que só Dubai supera. O
que se vê de sobra, é sobriedade, responsabilidade, compromisso com o bem estar
dos cidadãos. Aos meus amigos anfitriões perfeitos, Pixuta e Herbi Wolf,
obrigada pelo Fröhe Weihnachten, meu,
afinal, lindo Natal. À Alemanha, parabéns por sua competência. Apesar do que já
viveu ao longo de sua sofrida história há pouco mais de sessenta anos, dá gosto
ver como se superaram. E aí, vamos viajar? Sugiro a Alemanha na próxima parada.
Auf wiedersehen!
Amiga, parabéns pelo seu blog e obrigada por publicar-me! Super feliz, que bom que as pessoas ainda gostam de ler, né? Vou seguir o seu também. Um ano novo maravilhoso para você e mais uma vez, Merci!
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